Ji-Paraná/RO – A ausência de matas ciliares e o assoreamento dos rios que banham as cidades de Presidente Médici e Ji-Paraná estão modificando a vida dos moradores ribeirinhos da região. A escassez de peixe no Rio Muqui, afluente do Rio Machado, levaram os pescadores a buscar alternativas para sobreviver e alimentar suas famílias. A piscicultura em tanques-rede poderá ser uma saída.
Dados registrados no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o Rio Muqui já teve 43 por cento de sua área desmatada. Apenas no período 2003-2004 foram 766 hectares. Técnicos da Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (Emater), do escritório de Ji-Paraná, visitaram áreas onde já pode se detectar o baixo nível de água e a morte de pequenos rios e igarapés.
A preocupação com a degradação dos rios já chegou à população, que vem se articulando em busca de alternativas para impedir o seu avanço. Recentemente um evento reuniu moradores da Linha 16 – Gleba G, em Ji-Paraná e técnicos de organismos governamentais e não governamentais a beira do Rio Urupá para apresentar um projeto de recuperação das matas ciliares. Mas a preocupação chegou também aos pescadores que sobrevivem da atividade e não tem outras perspectivas de geração de renda. A recuperação dos rios e matas leva tempo. Para minimizar a situação e atender aos anseios dos pescadores, técnicos da Emater estão incentivando a criação de peixes em tanques-rede.
Tanque-rede
O custo para implantação de tanques-rede é uma técnica barata e simples, se comparada à piscicultura tradicional em viveiros de terra. Esse tipo de criação permite ter o maior número de peixes no menor espaço possível. Enquanto nos tanques-rede a produtividade é de 200 kg de peixe por m3, numa piscicultura tradicional esse número cai para apenas 500g a 1 kg por m2, dependendo do sistema adotado.
Outra vantagem é que o sistema permite o aproveitamento de uma grande variedade de lagos, lagoas e bacias existentes, dispensando o alagamento de novas terras, reduzindo os gastos com a construção de viveiros. No Brasil, com um potencial de quase seis milhões de hectares de águas represadas nos açudes e grandes reservatórios, construídos principalmente com a finalidade de geração de energia hidrelétrica, a produção comercial de peixes em tanques-rede está apenas começando.
A implantação de tanques-rede para pescadores em Rondônia é recente. O anseio partiu da própria comunidade que sentiu a necessidade de buscar alternativas para suprir a escassez do peixe nativo. Segundo Antônio Carlos Bonfim, técnico da Emater responsável pelo projeto em Ji-Paraná, dos nove projetos iniciais, três foram financiados pela linha de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf “D”, do Banco da Amazônia. O investimento total foi de 61 mil reais, dos quais sete mil reais de recursos próprios e 54 da linha de crédito financiada através do banco.
Tambaqui e pirarucu
Há sete meses os pescadores, Raimundo Umbelino das Neves, Jerônimo de Oliveira e Francisco Bezerra trabalham em 24 tanques-rede (21 de 18m3 e três de 50m3) com capacidade para 26.400 unidades. Os peixes produzidos pelos três pescadores são das espécies tambaqui, pirarucu e pintado. Hoje os tanques já contam com cerca de dez mil peixes e mais dez mil estão sendo esperados para complementar o projeto. Alimentados exclusivamente a base de ração os tambaquis estão na fase de crescimento. Ao atingir o peso de 1,5 quilos o peixe será comercializado na região.
Além de tambaquis, o pirarucu também está sendo criado em cativeiro. Jerônimo, Raimundo e Francisco têm 46 unidades dessa espécie em fase experimental. Também chamado de “bacalhau da Amazônia” o pirarucu é o peixe de maior peso e maior porte das espécies dos escamados. O valor de sua carne é muito nutritivo. Porém, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) proibiu sua pesca. “A procura era muito grande e os pescadores estavam colocando as redes no rio sem dó. Eles disseram que a espécie estava ficando em extinção, e por isso foi proibida”, dizem os pescadores da região. Sidnei Antônio Marconi, zootecnista e gerente técnico da Emater, diz ainda não existir estudos que comprovem a viabilidade da criação de pirarucu em cativeiro. Mas, para Jerônimo, 52 anos, que sempre foi pescador, foi preciso buscar essa alternativa porque “o rio não está mais dando conta de oferecer peixe e, com o Governo proibindo a pesca fica difícil pra gente”.
Alimentação
Criados quase que exclusivamente à base de ração, a alimentação tem sido o maior problema encontrado por quem decide pelo sistema tanque-rede. As elevadas taxas de estocagem deste sistema são dependentes de rações de alta qualidade nutricional, pois os peixes estão em um ambiente “confinado”, o que não permite o acesso ao alimento natural. As rações deverão permitir uma conversão alimentar adequada, pois os custos com a alimentação podem chegar a 70% dos custos totais de produção.
Para o pequeno piscicultor, principalmente esse que saiu da pesca artesanal e procura na atividade uma forma de garantir seu lucro, a criação de peixes em cativeiro acaba não sendo tão viável. Para tentar minimizar esse problema o Governo do Estado tem procurado incentivar indústrias de ração na região. Em Rolim de Moura já existe uma indústria em fase de instalação e acredita-se que, com a ração sendo fabricada no Estado, esse custo possa baixar e permitir maior lucro ao criador.