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quarta-feira, dezembro 18, 2024

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 CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES – O Meu Celular “es un traidor”

*Paulo Saldanha 

 

CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES
O Meu Celular “es un traidor”

Esse bicho anda empacando igual burro amuado! Mas eu o amo
mesmo assim!
Esse cara, às vezes bruto, enraivecido, intolerante, tem várias
amantes – duas de nomes modernos, conhecidas como WhatsApp e
Internet.
E quando o celular briga com uma tal de “operadora” e fica de mal
com essa uma? Alguns afoitos, ou não, a xingam de “avançada tecnologia”!
Acontece que não sou adicto, mas fiquei inoculado com o sangue
ocasional desse equipamento como se fosse uma carga viral moderna, e
nele ando “aviciadinho” por conta dos prazeres mundanos que esse
instrumento de prazer me concede… E, assim, assumo: estou dependente
desse tal de celular, na ‘Celularlândia’ do meu mundo atual!
Só que – imagine – tenho sido largado e abandonado; e ele, machista
e insensível, não me liga, não me telefona e nem me escreve! Nem foto,
tampouco notícias me envia!
E, pior! Parecendo ser ciumento, não me permite escrever, mandar
notícias e fotografias para outras pessoas que me são tão caras.
Esse personagem, ao contrário de mim, é impulsionado por uma
bateria que também tem seus momentos de indecisão e não cumpre o seu
papel na nossa parceria. Fica muitas e muitas vezes emburricado e não se
carrega, não se energiza o suficiente. Quando menos se espera esvai-se
numa diarréia violenta e não segura o esfíncter de seu repositório.
Sinto-me verdadeiramente traído por esse facínora, esse depravado,
insolente e arrogante celular! Se eu fosse menos intolerante já o teria
jogado nos vasos sanitários do universo.
Numa oficina fizeram um arrastão e levaram R$ 120,00 do
aposentado ingênuo, e nada do animal (o celular) voltar ao mundo dos
vivos, nem na linguagem dos sinais.
Ocorre que vivo igual à amante rejeitada ou traída: passada a raiva,
combinada com ódio insano, fico olhando de soslaio para o aparelho ali
estendido e inerte, aguardando uma piscadela; e quando imagino que isso

acontece, passo a mão nos seus cabelos em desalinho e vivo momentos de
irrefreável eternidade profana, apalpando-o, dedilhando e escutando-o,
sem perder a macheza que me envolve.

 

*Paulo Saldanha, membro das Academias de Letras de Rondônia e de Guajará-Mirim. Escritor com várias obras publicadas, dentre elas “O ALFERES E O CORONEL”, sobre seu avô coronel Paulo da Cruz Saldanha.

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