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quarta-feira, dezembro 18, 2024

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Dia Mundial do Postal: um caso de amor que deu certo!

Neste dia 1º de outubro, o mundo comemora os 151 anos da criação dos cartões postais, uma iniciativa dos Correios Gerais da Áustria em 1869 que logo foi adotada por outros países. Ao criar esse meio de comunicação, o austríaco Emmanuel Hermann acertou na receita: ele é mais barato (dispensa envelope), é artístico (com imagens que também servem para o turismo) e rápido na entrega de mensagens curtas e objetivas. Há quem possua um cartão postal que vale mais de 200 mil euros, postado por Pablo Picasso em setembro de 1918, quando a pandemia de gripe assolava as nações. Mas, o cartão postal também uniu gerações de apaixonados!
Um exemplo é o cartão postal que a senhorita Maria do Carmo de Britto enviou ao coronel José Braga Selva, em 1919. Ela escreveu: “Ao Ilmo. Sr. Cel. José Braga Selva. Meu muito feio José! Já estás melhorzinho? É o que de coração desejo ao meu Bisuba. José, não ficasse tão certo de tranquilizar-me! E qual razão de tanto silêncio? Porventura pioraste? Deus que não permita tal. Eu até alta madrugada senti-me incomodada, porém não tenhas cuidado que já não sinto mais nada, apenas saudades e cuidado do meu hominho. Tua bonita Maria.”
O que esse cartãozinho de amor remetido pelos Correios pode dizer aos casais apaixonados, cento e um anos depois? Primeiro, o respeito. Ela o chama de ilustríssimo, o honra como senhor e reconhece a patente de oficial. Acima de qualquer interpretação, vejo aqui uma saudação natural e correta, pois ela sabia que o cartão postal cairia em mãos estranhas antes de chegar ao destinatário. Uma coisa é o momento de intimidade do casal; outra é o respeito à pessoa amada em público. E este cuidado vale também para as atuais mídias sociais, com tanta exposição desrespeitosa da intimidade.
Daí que, entre o casal, logo ela desmancha a formalidade e o chama de “muito feio”. A intimidade gera esse jogo de antônimos na linguagem do amor. Desperta bom humor. Cria elos de comunicação únicos entre o casal, pois é lógico que ninguém mais se atreveria a chamar o coronel de “muito feio”. Em seguida, o cuidado com a pessoa amada: “Já estás melhorzinho?” Parece que José havia adoecido. Se dói num, dói no outro. Se atinge um, atinge o outro. Coisas inexplicáveis do amor. Expressões concretas de carinho. Cimento da companhia. Mas, ela estava sem notícias dele. Então, como dar uma bronca sem ser agressiva? Maria descobriu o melhor jeito: José, não ficasse tão certo de tranquilizar-me! E qual razão de tanto silêncio? Porventura pioraste? Deus que não permita tal. Ela o faz recordar da promessa feita de que ele a manteria informada. Faz isso firmemente. Sem acusações. Sem brigar. E pede para Deus não permitir que ele tenha piorado.
Com um toque sutil de empatia, ela diz que também adoeceu – “senti-me incomodada” –, que perdeu o sono, mas que não era para ele se preocupar. Ora, é claro que diante dessa notícia, José iria entender que mesmo estando doente, era preciso não deixar de cuidar da amada. Quando alguém adoece, deseja que o mundo pare; porém, quem ama, mesmo doente, continua atento ao outro. Antes de concluir, ela sabiamente diz que tem “saudades e cuidado” dele. A saudade é a mais completa e sincera foto do amor. Ocorre quando o outro é importante, complementar, agradável e imprescindível. Somente quem verdadeiramente ama sente saudade. Nesse clima, Maria mostra mais uma vez que o amor precisa de intimidade: ela o chama de “hominho”. Seria ele baixinho? Magrinho? Não sei. O que vemos é o uso do diminuitivo para expressar carinho.
Por fim, ela assina: “Tua bonita Maria”. Puxa! Em três palavras, a certeza da união deles; a autoestima bem humorada contrapondo-se ao “muito feio”; e a simplicidade de ser a “Maria” que amava o ilustríssimo coronel. O fato é que em toda parte do mundo, histórias semelhantes de amor, solidariedade, conforto, negócios, congratulações, notícias, fé e esperança entre as pessoas continuam sendo possíveis graças aos serviços dos Correios que ligam pessoas e sonhos. Tanto que, depois desse cartão postal, meus avós Maria e José se casaram (felizmente!). Um caso de amor postal que deu certo.

Por: Moises Selva Santiago – Graduado em Comunicação Social Habilitação em Jornalismo (Universidade Católica de Pernambuco, 1987); graduado e especialista em Teologia (Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, 1997); mestre em Teologia (Seminário Teológico Batista Nacional, 2006). Especialista em Associativismo (Universidade Federal Rural de Pernambuco, 1992-1993); e em Didática do Ensino Superior (Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal, 2006-2007). Tem lecionado desde 1995 no STBNB, SEC, SETEBAN-PE, SETEBAN-RO, FACIMED, UNESC, FAROL, UNIR, e na Universidade Cristã de Kiev, Ucrânia. É Pastor Batista

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