Espigão D’Oeste/RO- Faltando um dia para completar dois anos da chacina na Reserva Roosevelt, onde 29 garimpeiros foram mortos à noite durante emboscada feita por índios Cinta-Larga dentro de uma área de extração ilegal de diamantes, um novo conflito rompe uma trégua marcada pela tolerância da garimpagem ilegal em terras proibidas vigiadas por uma Força-tarefa envolvendo as polícias Federal e Militar.
Surpreendidos por um grupo de índios os garimpeiros Lismar Nunes da Silva, o Pernambuco, e Francisco da Chagas, o Macarrão, foram assassinados. O terceiro garimpeiro, Arionilson Bispo da Silva conseguiu escapar com vida após ter levado um tiro na barriga.
O crime aconteceu no final do tarde do último dia cinco numa área de extração ilegal de diamantes a 50 quilômetros das aldeias comandadas pelos caciques João Bravo e Nacoça Pio Cinta-Larga.
Arionilson foi levado por um outro garimpeiro a pé até uma base da Polícia Federal. Isso aconteceu às 6 horas de ontem, de onde foi levado de caminhonete a Pimenta Bueno. Na tarde de ontem o garimpeiro foi submetido a uma cirurgia em Cacoal e o estado de saúde dele é grave.
Ontem policiais Federais, acompanhados de funcionários da Funai foram à aldeia do Cacique João Bravo Cinta-Larga. Por rádio os índios informaram que os corpos dos dois garimpeiros foram levados para a aldeia. Às 19 horas de ontem a Polícia Federal já estava na aldeia e a previsão era de que, na primeira hora dessa madrugada, eles estariam em Pimenta Bueno.
O delegado da base central da Polícia Federal em Pimenta Bueno, Rodrigo Carvalho, informou que o motivo do crime ainda está sendo objeto de investigação. Sabe-se que os garimpeiros estavam na terra dos índios há pelo menos uma semana aventurando encontrar diamantes.
O delegado informou também que os familiares das três vítimas moram em Pimenta Bueno e que as viúvas serão ouvidas no processo.
Uma fonte revelou que a morte dos dois garimpeiros teria sido por causa de um desentendimento com os índios. Algo relacionado com a divisa de barranco na garimpagem ou o não-pagamento para poder garimpar em terras indígenas, prática comum.
A mesma fonte revelou ainda que o crime teria sido cometido por Robertinho Cinta-Larga, e por um outro índio chamado Zezão, que pertenceria a uma etnia da região de Juína, no Mato Grosso.
Um dos garimpeiros ouvido pelo delegado Rodrigo Carvalho, disse que existem pelo menos 200 pessoas trabalhando nas terras dos índios. Parte estaria sem o consentimento da tribo, outra não só teria permissão, como pagam para ter o direito de explorar a reserva de diamantes.
A garimpagem não é apenas manual. Existem muitas máquinas trabalhando dentro da reserva. Essas máquinas teriam entrado pela região do Mato Grosso, para onde partem aviões levando diamantes extraídos de forma ilegal.
A Polícia Federal mantém bases em torno da reserva com pelo menos 50 homens como parte da Força-Tarefa que tem a participação da Polícia Militar.
Massacre contra 29 garimpeiros
O massacre de 29 garimpeiros clandestinos, mortos pelos índios cintas-largas em Rondônia, e os protestos contra a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, reabriram no país um debate caloroso sobre a questão indígena. O garimpo ilegal de diamantes, os limites dos direitos dos índios de defenderem suas terras e a desapropriação de cidades inteiras na demarcação das reservas foram alguns dos temas levantados ao longo das últimas semanas.
Os garimpeiros foram assassinados pelos Cinta-Larga no início de abril, numa área próxima à reserva indígena Roosevelt, em Rondônia, que abriga 1.300 índios. A região possui as maiores jazidas de diamantes do país, o que gera constantes conflitos entre garimpeiros e índios. Os corpos foram encontrados dispostos lado a lado, em adiantado estado de decomposição, por uma equipe da Funai que conseguiu entrar na área, guiada pelos próprios guerreiros que participaram do ataque.
Mas a questão não é tão simples como o presidente da Funai fez parecer. O fato é que os caciques da tribo dos Cinta-Larga João Bravo e Nacoça Pio, que vivem na reserva Roosevelt, já respondem a ação penal por contrabando de diamantes e formação de quadrilha. Eles são acusados, junto com funcionários da Funai e atravessadores de pedras preciosas, de participar da exploração ilegal de diamantes na reserva.
Após a descoberta do massacre, a Funai e a Polícia Federal tiveram que negociar com os índios para entrar na reserva e resgatar os corpos das vítimas, numa operação difícil que envolveu inclusive a abertura de clareiras na mata para o pouso de helicópteros.