Por Lúcio Albuquerque, repórter
No mesmo ano em que a Madeira-Mamoré foi inaugurada (1912), o que é hoje Rondônia começava a enfrentar sua primeira crise, com a produção da borracha asiática, a custo menor do que a amazônica, um período que foi até 1942 quando “descobriram” que só uma região no mundo poderia suprir a “sede” da hevea para abastecer os exércitos aliados, mas voltamos à estaca zero três anos depois e na década de 1960 um novo ciclo que acabou depois. Mas éramos Território, não tínhamos receita mas, também, não tínhamos despesa, porque o Governo central bancava, isso até o final da década de 1990, quando o Estado teve de assumir suas contas, ainda que com forte aporte federal.
Mas nunca tivemos pela frente um horizonte como este que se desenha à nossa frente, tendo que enfrentar uma situação de desgaste imenso. Talvez alguém diga que tivemos situação difícil também quando acabaram as construções das duas hidrelétricas e milhares de pessoas ficaram sem emprego, e sem rumo, apesar dos avisos e da liberação de recursos para incentivar a geração de empregos. Por falta de visão de futuro dos administradores de então, especialmente a capital ficou com problemas sociais que, até agora, mais de 5 anos depois inda está bem distante de resolver.
Agora, no entanto, a situação é a mais grave que se possa imaginar: de um lado uma doença que ninguém sabe ainda o que seja nem como tratar e, de outro a paralização quase total da economia onde as estimativas mais benéficas já apontam que só em Porto Velho, em menos de dois meses já temos um quadro de 6 mil desempregados, na área direta e da economia informal, lado que mais vem sofrendo, e ainda neste dia do Trabalhador um importante dirigente classista estimou que a quantidade, só em Porto Velho, pode chegar até 10 mil desempregados até o final do mês.
Outra fonte ouvida a respeito disse que tal número representa em torno de 2,5 mil famílias sem ter renda, ou sobrevivendo de auxílio “samaritano”, cujos recursos também tendem a serem finitos. E apresentou um número muito preocupante: segundo ele 17% das empresas paradas em Porto representam uma parcela consideravelmente alta da capacidade arrecadadora do Estado.
Claro que a “essa altura do campeonato”, como é costume dizer-se, a preocupação maior do Governo e prefeituras deve ser como fazer para reduzir a quantidade de casos diagnosticados, de vítimas e de despesas com o enfrentamento com o que nenhum economista – ainda que com bola de cristal – pôde imaginar que teríamos pela frente.
O governo estadual, certamente, não tem ainda um plano definido para enfrentar a situação. Há saídas a serem colocadas em vigor, mas dificilmente agora serão difíceis de serem aplicadas, como, por exemplo, gerar empregos reativando a construção, e não só a civil mas, também, a pesada, ainda mais que estamos em pleno período de início do verão amazônico, a melhor fase do ano para construir, tanto obras civis quanto recuperar as estradas tão necessárias para o escoamento da safra.
Além de equipes voltadas para o combate à pandemia, o governo e as prefeituras já deveriam estar trabalhando para constituir projetos e buscar recursos que possam, de forma rápida, serem executados tão logo haja o achatamento da curva pandêmica e aberto o caminho rumo ao descesso dos casos, e não esperar, como acontece todos os anos com relação às queimadas, que o problema cabe para então começar a agir.
As estruturas tanto do governo quanto da prefeitura não podem, ainda que seja muito importante a atenção para o caso, estarem voltadas apenas para o coronavírus mas, também, para o que será o dia seguinte.
Ou, pior, para quando a fonte secar e não houver mais dinheiro nem para comprar um tubo de oxigênio.
Inté outro dia, se Deus quiser!