São Félix do Xingu/ Pará – Cerca de 700 hectares de florestas foram invadidos e desmatados por fazendeiros na Terra Indígena (TI) Kaypó, próximo ao município de São Félix do Xingu, no extremo norte da reserva, entre as aldeias Kikretum e Kokraimoro. As primeiras denúncias da Fundação Nacional do Índio (Funai) à Polícia Federal e ao IBAMA foram feitas há três meses, mas as invasões, além de não combatidas, se intensificaram. Com a ausência de providência por parte das autoridades, os índios ameaçam usar a força para garantir a integridade se seu território.
Desde a semana passada, uma comissão da Funai está no local para fazer um levantamento detalhado do estrago provocado pelos fazendeiros e acalmar os índios que ameaçam expulsar os invasores. Imagens de satélite analisadas pelos técnicos da Organização Não-Governamental Conservação Internacional comprovam a existência de áreas desmatadas na TI Kayapó.
Ameaça de conflito
A Funai teme que a demora da ação das autoridades no local leve a um conflito entre os índios e os fazendeiros. Em abril de 2004, um conflito na reserva dos índios Cinta-larga, em Rondônia, resultou na morte de 29 garimpeiros que haviam invadido suas terras. A matança poderia ter sido evitada se o governo tivesse atendido às denúncias que já vinham sendo feitas há pelo menos dois anos. “Estamos tentando articular, desde de setembro, junto ao Ibama e a Polícia Federal, uma operação para tirarmos os invasores da área dos Kayapó, mas não obtivemos nenhum apoio”, reclama Eimar Araújo, responsável pela Funai regional de Marabá.
Araújo afirmou que os indigenistas ainda vêm trabalhando para evitar que os índios usem de violência, mas teme que com o aumento das invasões os esforços sejam em vão. Nas últimas semanas, algumas lideranças indígenas conseguiram negociar a saída pacífica de alguns invasores da área, mas eles denunciam que passados alguns dias todos estavam de volta nos seus acampamentos. “Se o Estado brasileiro demorar ainda mais, os índios vão agir da maneira deles. Isto significa que haverá um cenário de violência e conflito com perdas de vidas humanas”, alerta Araújo.