Costa Marques- Aqui vive um infeliz Pacheco noite e dia, com grossa e comprida corrente fria e seu colar ao pescoço pendurado. O trecho é o único ainda legível do desabafo escrito na parede de uma das celas do Real Forte Príncipe da Beira, localizado às margens do Rio Guaporé, no município de Costa Marques, em Rondônia.
Os registros históricos indicam que o texto teria sido escrito por um padre, que esteve preso na fortaleza. “Que crime foi cometido pelo padre ninguém sabe, mas pelos poemas que ele escreveu, suspeita-se de que a causa da prisão tenha sido sua insatisfação com as ações da coroa portuguesa”, disse o jovem Elvis Pessoa, secretário da Associação Comunitária do Forte (Ascomfor) e ex-coordenador de um projeto de guias turísticos, desenvolvido na comunidade. Outro indicativo dos poemas do padre, segundo Elvis, é o de que ele sabia que permaneceria preso até a morte.
Há poucos registros sobre o Forte Príncipe da Beira no Brasil, já que o material completo estaria em poder do Governo de Portugal. Até mesmo na comunidade do Forte, poucas pessoas sabem contar a história. Os soldados do Batalhão do Exército que garante a segurança do local, apenas acompanham os visitantes, sem prestar qualquer informação relevante. O turista que quiser detalhes sobre o monumento tem que procurar um dos membros da Ascomfor. O jovem Elvis é um dos poucos que já desenvolveu pesquisas aprofundadas sobre o tema.
Presídio político
O Forte teria sido construído no período de 1776 a 1783, pelo Governo de Portugal. A Coroa Portuguesa pretendia usá-lo para se defender da ocupação que vinha sendo feita pelos espanhóis. A obra foi executada com 970 metros de perímetro, com muralhas de 10 metros de altura, 4 baluartes e um total de 56 canhões. Trabalharam na construção cerca de mil homens, entre funcionários da Coroa, escravos e índios. Os materiais teriam vindo da Inglaterra e da França. Suspeita-se também que parte dele, as pedras, por exemplo, teriam sido extraídas da própria região. “Os recursos gastos aqui, são comparados ao mesmo montante que seria necessário para construir Brasília”, comenta Elvis.
O Forte não chegou a ser usado para a finalidade para a qual foi construído, mas teria servido como presídio político. Em 1889 ou em 1895, teria sido desativado pela república recém instaurada, por medida de economia. Cerca de 100 anos depois, teria sido redescoberto pelo então marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que desde então passou a lutar pela sua reativação, o que ocorreu, em parte, em 1932, com a instalação de um contigente do Exército em sua volta.
Segundo Elvis, o Forte Príncipe da Beira é o maior e o mais antigo da América Latina. É o único, porém, que ainda não foi restaurado. Boa parte das paredes encontra-se em ruínas.