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domingo, dezembro 22, 2024

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Indígenas produzem café premiado sem agrotóxicos e irrigação

Robusta amazônico, produzido pelo povo Paiter Suruí, é reconhecido como patrimônio cultural e imaterial de Rondônia. Qualidade do grão cultivado pelos povos Paiter Suruí está diretamente ligado ao reflorestamento e sustentabilidade.

Cafezal dentro da Terra Indígena Sete de Setembro — Foto: Emily Costa/g1 RO

Dentro da Terra Indígena (TI) Sete de Setembro, o povo Paiter Suruí produz um café premiado e reconhecido como patrimônio cultural e imaterial de Rondônia: o robusta amazônico. A qualidade do fruto é resultado dos conhecimentos sobre a floresta e práticas sustentáveis adotadas pelos indígenas.

“O cultivo e a qualidade do nosso café vem da floresta em pé. Para se ter uma ideia, cultivamos sem irrigação, porque o mais importante é a mata”, explica o presidente da Cooperativa Indígena Garah Itxa, Celso Suruí.

De acordo com Celso, 150 famílias estão envolvidas no cultivo do café em 25 aldeias que ficam dentro da TI Sete de Setembro, localizada entre os estados de Rondônia e Mato Grosso.

Iniciativas como o reflorestamento feito pelos indígenas em seu território, que envolvem o plantio de frutos nativos (técnica conhecida como “agrofloresta”) próximo às plantações, é fundamental para garantir o melhor cultivo do grão.

Como surgiu os cafezais?

O presidente da cooperativa explica que o plantio de café não fazia parte da cultura Paiter Suruí: as lavouras foram deixadas por colonizadores que viviam na região antes da demarcação da terra indígena.

A TI Sete de Setembro, que é habitada por indígenas Paiter Suruí, está localizada entre os estados de Rondônia e Mato Grosso, em uma área de 248.146 hectares. O modo de vida tradicional do povo Suruí está ligado ao uso da floresta e às atividades extrativistas.

O período de colonização da Terra Indígena ocorreu por volta de 1920 até 1980, quando houve a demarcação. A área era habitada por não indígenas que exploraram recursos naturais da região, incluindo a extração ilegal de madeira.

Após o contato com a sociedade não indígena, os Paiter perceberam que esse café que existia em seu território era uma cultura lucrativa que poderia contribuir para o desenvolvimento de sua comunidade.

Café robusta amazônico produzido na Terra Indígena Sete de Setembro — Foto: Emily Costa/g1 RO

Adubação natural

Celso Suruí conta que com o início do projeto de reflorestamento dentro do território, a qualidade do café cultivado aumentou, devido à presença de floresta próximo das lavouras.

“Na nossa concepção como Paiter Suruí, não precisamos usar agrotóxico no nosso plantio. A terra onde fazemos o plantio do nosso café é muito rica de adubação orgânica por causa da agrofloresta”, explica Celso Suruí.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o plantio de café próximo à floresta cria um “microclima” (condições climáticas específicas de uma região) que oferece benefícios como: umidade, temperatura adequada e uma diversidade de polinizadores.

Agrofloresta – Terra Indígena Sete de Setembro — Foto: Emily Costa/g1 RO

Separação manual

Celso Suruí explica que toda a colheita e separação dos grãos é feita de forma manual pelos indígenas dentro das aldeias. Após a colheita, os grãos são levados para o secador estático (equipamento utilizado no processo de secagem de grãos) e ficam na máquina por cerca de 36 horas (1 dia e meio).

O equipamento foi doado em 2023, pela Secretária de Estado da Agricultura (Seagri), antes os grãos ficavam secando por cerca de oito dias em uma área limpa.

Além disso, após o processo de secagem, os grãos são “beneficiados”: cascas do café são removidas e os grãos ficam prontos para serem moídos e vendidos.

Qualidade reconhecida

Em 2019, a qualidade do café produzido nas aldeias do povo Paiter Suruí foi reconhecido pela primeira vez: a indígena Diná Suruí e o companheiro, Yami-xãrah Suruí, foram os campeões da primeira edição do concurso de qualidade dos Robustas Amazônicos, o Tribos.

Segundo especialistas do evento, o café especial que foi premiado, com 89,63 pontos, tem sabores amazônicos, notas de chocolate e castanhas. A qualidade da bebida foi o que garantiu o primeiro lugar.

No mesmo ano, os indígenas foram convidados para uma parceria com uma marca nacional de café: 90% dos grãos colhidos nas aldeias são vendidos para a empresa. O café é vendido em grãos beneficiados e embalados pela própria empresa. Os 10% restantes são divididos entre os indígenas das comunidades.

Atualmente, 150 famílias estão envolvidas no projeto e cultivam café em 25 aldeias que ficam dentro da TI Sete de Setembro, segundo o presidente da Cooperativa Indígena Garah Itxa.

Na última colheita realizada pelos Paiter Suruí, cerca de 2.000 sacas de café robusta amazônica foram colhidas e vendidas por valores entre R$ 800,00 e R$ 1.200,00, cada.

Durante a Semana Internacional do Café, realizada em novembro de 2023, o pódio do ‘Florada Premiada’ foi ocupado exclusivamente por cafeicultoras de Rondônia. Entre elas, Celesty Suruí, da aldeia Lapetanha, em Cacoal (RO).

Paiter Suruí recuperam áreas desmatadas com cultivo de frutos nativos dentro de aldeias em Rondônia — Foto: Emily Costa/g1 RO

O que é o café robusta?

Os robustas amazônicos são resultado do cruzamento dos cafés Conilon e Robusta especialmente selecionados. A qualidade da bebida extraída a partir dessa junção rendeu a ele a primeira Indicação Geográfica com Denominação de Origem (DO) para café canéfora sustentável.

De acordo com a Embrapa, foi na Amazônia, especialmente na região Matas de Rondônia, que estes materiais híbridos encontraram condições apropriadas para se desenvolver e tem se destacado na cafeicultura nacional pelo vigor, produtividade e, principalmente, qualidade.

Em janeiro deste ano, o robusta amazônico foi declarado patrimônio cultural e imaterial de Rondônia.

Fonte: G1/RO

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