Porto Velho/RO – Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir), da Universidade de Brasília (UNB) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está pesquisando as comunidades ribeirinhas da região de Porto Velho para tentar descobrir por que estas populações tradicionais não apresentam seqüelas de contaminação de mercúrio.
Foi constatado que os níveis de mercúrio dos ribeirinhos é de 15 partes por milhão (ppm) por cada grama de cabelo coletado, quando os níveis normais são de 6 ppm. “É mais que o dobro do aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, eles não apresentam sintomas comuns de contaminação, como danos à visão e ao sistema nervoso central”, diz Wanderley Bastos, professor da Unir.
O pesquisador afirma que o Rio Madeira possui uma quantidade de mercúrio natural em níveis baixos, mas que tende a se concentrar nos peixes, espécies muito consumidas pelos ribeirinhos, mesmo assim, não foram detectados efeitos nocivos aparentes, como perda de coordenação motora e da visão. A análise clínica dos ribeirinhos está sendo feita por um médico toxologista, que verifica comprometimentos neurocomportamentais, como dificuldade de aprendizagem. “Queremos saber se há seqüelas não visíveis”, disse o pesquisador.
Dieta
A hipótese mais provável para não haver sintomas visíveis é a variedade da dieta ribeirinha. “Sabemos que o selênio é um inibidor natural do mercúrio. Alguns alimentos, como a castanha do Pará, são fontes naturais do selênio. Nossos questionamentos são: quanto de selênio os ribeirinhos ingerem e quanto de selênio há nas frutas e em outros alimentos? É neste estágio que estamos na pesquisa”, explicou Wanderley Bastos.
Os pesquisadores estudam há um ano e meio a Comunidade Puruzinho.
Contaminação
Wanderley Bastos diz que a média de mercúrio do porto-velhense urbano é de 1 ppm, bem abaixo do nível máximo tolerável, 6 ppm. “Já tivemos fases de maior contaminação por mercúrio, na época do apogeu do garimpo de ouro no Madeira”, diz. Segundo ele, atualmente o garimpo não representa muito dano neste sentido, porque hoje se usa o método de destilação, através de um instrumento conhecido como retorta. O mercúrio se evapora, condensa e liqüefaz novamente, podendo ser reutilizado e assim não vai para a atmosfera e não contamina o meio ambiente. “Por ser mais barato, o método se difundiu e é o mais utilizado. Já foi uma evolução”, conclui.