Jarú/RO – Os invasores estão indo mais longe na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Além de retirar a madeira, em derrubadas seletivas, eles estão plantando e criando gado nas fundiárias das aldeias. Os índios estão revoltados com a situação e ameaçam retirá-los do local a força, caso a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) não resolvam o problema.
Com 1 milhão e 867 mil hectares, a Reserva Indígena dos Uru-Eu-Wau-Wau é a maior do Estado de Rondônia e a terceira maior do País. Espalhados em pequenas aldeias, vivem os índios Uru-Eu, Wau-Wau, contactados pelos brancos no decorrer da década de 80. Há também na área, dois grupos de índios isolados.
Desde o contato com os brancos, os Uru-Eu-Wau-Wau passaram a enfrentar vários problemas de invasões. Temidos pela habilidade no uso do arco e da flecha e unidos na defesa de suas terras, eles já conseguiram evitar muitas tentativas de depredação. Em uma ocasião, chegaram a expulsar cerca de dois mil garimpeiros que tentavam entrar na reserva em busca de ouro.
Ocupação das divisas
Nos últimos anos, no entanto, a situação se agravou. Os invasores passaram a retirar madeiras da área de forma seletiva e a ocupar as proximidades da divisa da reserva, com o plantio de várias culturas. Há também cercas de arames no meio da mata. “Nos dividimos em várias aldeias para tentar cuidar de toda a área, mas o número de invasores é cada vez maior”, disse Pureí Uru-Eu-Wau-Wau, presidente da Associação Jupaú.
Mesmo afirmando que seu povo está disposto a defender suas terras a qualquer custo, Purei disse que há necessidade de mais apoio por parte da Funai e do Ibama. “Esta derrubada está chegando cada vez mais para dentro da reserva. Já estamos perdendo as terras em volta das divisas”, disse.
Desrespeito e roubo
O cacique Tanguipi Uru-Eu-Wau-Wau disse que fazendeiros e madeireiros da região estão desrespeitando e roubando seu povo, já que invadem a reserva e levam tudo que encontram.
“Eles tiram nossa madeira, nossa caça e nossos peixes”, disse. Ele ressaltou também, que ao contrário do branco, o índio não está saindo da reserva para roubar na propriedade de ninguém.
Tanguipi afirmou que seu povo só quer paz e respeito, mas que se as invasões não se encerrarem, poderá ocorrer mortes na área. “Já que eles continuam teimando é porque querem morrer”, disse.
Fiscalização será intensificada
O administrador executivo regional da Funai, Rômulo Siqueira de Sá, disse que a fundação tem trabalhado na área em conjunto com o Ibama, a Polícia Federal e outros órgãos de fiscalização, na tentativa de resolver o problema. Há poucos dias, segundo ele, foram presos dois invasores que estavam retirando madeira da reserva.
A partir desta semana, segundo o administrador, a fiscalização será reforçada. “Estamos deslocando mais gente para percorrer toda a área e intensificar a vigilância”, disse. O presidente do Ibama, Osvaldo Pittaluga, foi procurado por várias vezes, por telefone, mas não foi encontrado para prestar informações sobre a atuação do instituto na reserva.