O presidente errou ainda ao dizer que o Brasil não tem voos diretos para o continente africano, e distorceu informações ao afirmar que o país foi convidado a participar do encontro do G7 quando tornou-se a sexta maior economia do planeta, em 2011.
Confira abaixo um resumo do que verificamos:
- De acordo com dados do FMI, atualizados até o dia 28 de agosto de 2023, os países africanos, juntos, devem cerca de US$ 42 bilhões de dólares ao banco;
- Documentos da época mostram que o FMI se manifestou sobre a crise de 2008, alertando para a situação de países ricos meses antes de ocorrer o abalo econômico de grandeza mundial;
- Atualmente há 12 voos semanais, de duas companhias aéreas, ligando o Brasil a dois países da África;
- Quando se tornou a sexta maior economia do mundo, em 2011, o Brasil não foi convidado a participar do encontro do G7.
“Qual é o problema do continente africano? É que quase todos os países devem quase 800 bilhões de dólares para o FMI” — durante Conversa com o Presidente, em 29.ago.2023.
De acordo com dados do FMI, atualizados até o dia 28 de agosto de 2023, os países africanos, juntos, devem cerca de US$ 42 bilhões de dólares ao banco. Os países com a maior dívida são Egito (US$ 12,5 bilhões), Angola (US$ 3,1 bilhões) e África do Sul (US$ 3 bilhões). A declaração do presidente, portanto, é falsa.
Lula provavelmente se referia à média da dívida dos 47 países africanos que pegaram empréstimos com o FMI, que é US$ 893 milhões.
Juntos, os países da África possuíam, em 2021, uma dívida externa total de US$ 644,8 bilhões, de acordo com dados do Banco Mundial. Dos bancos multilaterais, os maiores credores das nações africanas são a Associação Internacional de Desenvolvimento (US$ 84 bilhões), o Banco Africano de Desenvolvimento (US$ 43 bilhões) e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (US$ 30 bilhões).
“Quando houve a crise em 2008 nos países ricos, o FMI não se manifestou” — durante live feita em Joanesburgo, na África do Sul, em 22.ago.2023.
Não é verdade que o FMI não se manifestou sobre a crise financeira de 2008 — que foi iniciada a partir de uma bolha imobiliária nos Estados Unidos e atingiu de forma severa países europeus —, como dito por Lula durante viagem a Joanesburgo, na África do Sul. Registros comprovam que a situação de americanos e europeus foi abordada em diversos relatórios semestrais publicados pela instituição a partir de abril de 2007. Essa não é a primeira vez que Lula desinforma ao alegar que a entidade não se posicionou sobre a crise de 2008. Em março, o mandatário fez uma alegação enganosa semelhante.
- O Relatório sobre a Estabilidade Financeira Mundial, de abril de 2007, identificou um risco no mercado hipotecário dos Estados Unidos e dizia que a situação poderia impactar o crédito corporativo daquele e de outros países;
- Em outubro do mesmo ano, um novo relatório apontou que esses riscos de crédito “se materializaram e se intensificaram” e que, por mais que as perdas parecessem administráveis e os bancos estivessem preparados para enfrentar cenários mais severos, pairavam incertezas quanto à magnitude do problema e seus possíveis impactos sobre a estabilidade econômica geral;
- Em abril de 2008, o FMI afirmou que os riscos macroeconômicos negativos da economia americana tinham impacto significativo sobre finanças sistemicamente importantes e que poderiam se espalhar para os mercados globais;
- Meses depois, em outubro, já no pico da crise, o fundo disse que o sistema financeiro global havia passado por um período de tumulto, que diminuiu a confiança do mercado e que levou ao colapso — ou quase — diversas instituições bancárias. Também houve “convocação de intervenção pública no sistema financeiro em uma escala não vista há décadas”. Este documento do FMI estimou uma perda de US$ 1,4 trilhão em créditos desde o início da crise.
Na declaração do encontro de líderes do G20 em 2008, o FMI foi parabenizado por seu “papel importante na resposta à crise” e suas ações para facilitar o auxílio financeiro a curto prazo. O Brasil é integrante do grupo, que reúne as 20 maiores economias do mundo, e o presidente na época era Lula.
“Eu quero discutir como o país do tamanho do Brasil não tem voos diretos para o continente africano” — no Twitter, durante viagem a Angola, em 26.ago.2023.
Ao contrário do que Lula disse, há voos diretos entre o Brasil e África, ainda que algumas rotas tenham sido interrompidas em razão da pandemia. Atualmente, duas companhias aéreas fazem 12 voos semanais ligando o Brasil a dois países da África. Com saídas do aeroporto de Guarulhos (SP), é possível pegar um voo direto para Addis Abeba, capital da Etiópia, por meio da Ethiopian Airlines, além de Luanda, capital de Angola, pela Taag Linhas Aéreas, que opera no Brasil há mais de 30 anos. Em 2022, a Taag, inclusive, ampliou o número de voos entre Brasil e Angola.
Os voos da Latam para Joanesburgo, maior cidade da África do Sul, serão retomados no início de setembro após terem sido suspensos no início de 2020 em razão da pandemia. Já a South African Airways irá estrear a rota entre São Paulo e Cidade do Cabo, capital legislativa da África do Sul, a partir de outubro, e no mês seguinte irá reinaugurar a rota para Joanesburgo. Os voos para as duas cidades sul-africanas marcam o retorno das operações da South African Airways ao Brasil, após uma crise financeira que interrompeu os voos da companhia também no início da pandemia.
No caso da Ethiopian Airlines, por exemplo, a companhia aérea opera no Brasil há 10 anos e os voos entre o Brasil e a capital do país, Addis Abeba, foram mantidos mesmo durante a pandemia.
Ainda sem data definida, mas com previsão que ocorra ainda neste ano, a Embratur — uma autarquia do Ministério do Turismo — divulgou em maio que as operadoras Royal Air Maroc e Egypt Air oferecerão voos de Marrocos e Egito, respectivamente, para o Brasil. Já a Cabo Verde Airlines anunciou em 8 de agosto que tem planos para retomar voos da Ilha do Sal, em Cabo Verde, para a cidade de Fortaleza.
“O G7, mesmo quando o Brasil chegou à sexta economia do mundo, a gente era convidado como convidado e não como participante” — durante live feita em Joanesburgo, na África do Sul, em 22.ago.2023.
Lula erra ao dizer que o Brasil foi convidado a participar do encontro do G7, grupo que reúne algumas das principais economias do mundo, quando o país tornou-se a sexta maior economia do planeta — posto alcançado em 2011, durante o primeiro governo Dilma Rousseff (PT), segundo o FMI e consultorias. O Brasil não foi convidado naquele ano, o que até então tinha ocorrido apenas em 2009, quando o país tinha a oitava maior economia, segundo o FMI.
Em maio deste ano, Lula participou do encontro do G7, que ocorreu no Japão, sendo que em 2022, o Brasil fechou o ano na nona posição no ranking das maiores economias do mundo.
O G7 é composto por sete participantes permanentes (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos) desde a criação do grupo, em 1975, e foi alterada em 1998, quando a Rússia foi convidada a se tornar membro do grupo, que então passou a se chamar G8. A Rússia, no entanto, foi expulsa após a anexação da Crimeia, em 2014, e desde então o grupo voltou a se chamar G7.
Referências:
1. FMI (1, 2, 3, 4, 5 e 6)
2. One.org
3. El País Brasil
4. O Globo (1 e 2)
5. Aos Fatos
6. Aero Magazine
7. Aeroin (1, 2 e 3)
8. Mercado e Eventos (1, 2 e 3)
9. Airway (1 e 2)
10. Panrotas (1 e 2)
11. Viagem e Turismo
12. Aeroflap
13. Embratur
14. Governo de Cabo Verde
15. G1 (1, 2 e 3)
16. Veja
17. O Estado de S. Paulo
(Fonte: Aos Fatgos)