Corumbiara/RO – No Parque Estadual de Corumbiara, região do cone sul de Rondônia, uma área de transição entre os cerrados do pantanal mato-grossense e a Floresta Amazônica, vivem 57 espécies de mamíferos e 173 espécies de aves. A área de fronteira com a Bolívia é quase toda coberta por vegetação natural e chama a atenção pela pureza da flora e da fauna.
Neste cenário destacam-se oito tipos de primatas, incluindo o Barrigudo (Lagothrix lagothricha), o Coxiú (Chiropotes albinasus), Auatá (Ateles chamek) e Guariba (Alouatta fusca).Dois tipos de primata representam os demais que vivem na região, são eles o Barrigudo e o Uacarari.
Barrigudo – O macaco Barrigudo possui de 51 a 69 centímetros e sua calda mede entre 60 e 72 centímetros. Recebe esse nome por causa da proeminência da barriga. Em cativeiro, seu peso alcança até seis quilos. O pelo é curto e abundante e a cabeça compacta e redonda. Uma das suas principais características é possuir calda preênsil. Come folhas e frutas, mantém hábitos diurnos e vive nas árvores em grupos de 12 ou mais indivíduos. O macaco Barrigudo é dócil e calmo, pode ser domesticado. Habita o Brasil, Colômbia, Equador e Peru.
Uacarari – Na Amazônia, os macacos Ucaris constituem a espécie menos conhecida entre os cientistas e até mesmo por habitantes da região oeste da Amazônia, onde vivem. Eles estão em florestas inundadas, de difícil penetração. Descobertos há mais de 150 anos, foram muito pouco observados. Vivem em bandos de 50 indivíduos. De acordo com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Namirauá (IDSN), existem apenas duas espécies de Ucaris, ambas exclusivas do oeste amazônico: o Ucari de face vermelha (Cacajao calvus – com quatro subespécies), e o Uacari cabeça preta (Cacajao melonocephalus – com duas subespécies).
Seus nomes populares são Ucaris, Aaris, Mcaco-bicó. Dos seis tipos de Ucari, o único estudado por mais tempo foi o Ucari que corre na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. As espécies adultas medem de 50 a 60 centímetros de comprimento e os machos chegam a pesar pouco mais de quatro quilos.
Pesquisa
A Universidade Federal de Rondônia (Unir) registrou na Usp, em 1981, pesquisadores para estudar o mimetismo em lagartos no Vale do Guaporé. Depois disso, a região continuou carente de pesquisa animal, em virtude de dificuldades que os pesquisadores encontram de realizarem seus estudos. Um exemplo disso ocorreu com o pesquisador visitante do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Marcus Maria Von Roosmalem, que em 2000 descobriu duas novas espécies de macacos na Amazônia, mas foi multado pelo Ibama porque tentou, sem autorização, retirar da floresta quatro macacos.
Incêndios periódicos no Parque Corumbiara para renovação das pastagens, além do fato de as cabeceiras dos rios estarem situadas fora do território protegido aceleram o desmatamento e ainda a caça de cervos e animais maiores, considerados em declínio populacional, também justificam as pesquisas.
Unidades de Conservação
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá foi à primeira unidade de conservação desta categoria instalada no Brasil. Sua proposta resulta da solicitação encaminhada pelo biólogo José Márcio Ayres ao Governo do Estado do Amazonas, em 1985, para a criação de uma área de proteção para o primata Uacari branco (Cacajao calvus calvus), objeto de estudo de sua tese e doutorado, e ameaçado de extinção (Cambridge, 1986).
De acordo com o site da reserva, o resultado obteve a criação da Reserva Ecológica Mamirauá, com uma área de 1,12 milhões de hectares. Na condição de Reserva Ecológica, havia proibição legal de permanência das populações locais. Depois de diversas negociações políticas modificou-se a categoria para Reserva de Desenvolvimento Sustentável, em acordo com a legislação estadual. Em nenhum momento, porém, ao longo do processo de negociação, as populações foram removidas da área.
Para sua instalação elaborou-se um plano de manejo com base no resultado de pesquisas sociais e biológicas pelo período de cinco anos (1991-1996). Nesse plano de manejo constam as normas para o uso sustentado dos recursos naturais definidas com base nos resultados das pesquisas e das negociações realizadas com suas populações de moradores e usuários da reserva e com as principais organizações sociais atuantes na área. Este processo de negociação permanece, por meio das avaliações anuais dos investimentos e resultados, em assembléias anuais.
Os resultados de dez anos de investimentos nesta área possibilitam avaliar as vantagens desta categoria de unidade de conservação que tem por base principal o desenvolvimento de um modelo de área protegida para grandes áreas de florestas tropicais. Por meio do manejo participativo, conservou-se a biodiversidade, os processos ecológicos e evolutivos.