O GOSTO DE CADA UM
Luiz Albuquerque
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Não gosto de comer fígado. Este fato já me causou alguns constrangimentos em ocasiões nas quais fui convidado a almoçar na casa de alguém e o prato principal, às vezes o único, era fígado bovino. Quando eu agradecia, recusando a especialidade da cozinheira, tentavam me persuadir a experimentar mesmo que fosse “só um pouquinho pra ver que delícia era o prato”. Aí tinha que justificar que, simplesmente, meu sistema digestivo rejeitava aquele alimento, seja pelo cheiro, pelo gosto e até pela textura da carne. Simplesmente não conseguia nem colocar na boca, tendo rejeição até pelo cheiro.
Até que um dia tudo se resolveu. Como não conseguia convencer ninguém de eu apenas não gostar de fígado de qualquer animal, criei uma justificativa que trouxe paz a todos, ou seja, à mim, às cozinheiras, aos donos da casa e aos demais convidados. A partir de então ninguém mais insistiu pra que eu provasse “nem que seja só um tiquinho”. Como eu consegui? Simples: passei a dizer que o fígado, como alimento, me causava fortíssima alergia, inflamações, vermelhidão no corpo todo, ou, pior ainda, fechava a garganta me sufocando e cortando a respiração. Pronto, uma inofensiva e leve mentira me livrou do constrangimento de recusar e, ainda assim, ouvir horas de elogios ao prato que tanto rejeitava.
Conheço pessoas que não comem frango, outros que não comem peixes. Tenho até uma conhecida que não consegue comer nenhum tipo de alimento que venha da água. Sua rejeição é tanta que chega a se retirar do ambiente caso algum prato com peixe, crustáceo ou similares, seja colocado à mesa. Conheço também quem gosta de experimentar os diferentes sabores que existem em diversas Regiões e que, onde chegam, logo se informam querendo experimentar as iguarias locais.
Esse negócio de experimentar novos sabores, em geral, nos proporciona boas novidades. Mas acontecem alguns dissabores. Na Região Norte do Brasil, de onde sou natural, não é raro que pessoas vindas de outras regiões ou países não gostem de sabores que, para o povo de lá, é delicioso. Tacacá, cupuaçu, tucumã, tapioca, tapauá, taperebá, maniçoba, tucupi, farinha de mandioca e tantos e variados sabores.
Lembro da vez quando recebi um conhecido do interior de São Paulo que chegou doido por saborear coisas locais. Já na primeira manhã levei-o ao Mercado Central. Pra começar, pediu tapioca, coisa que ele sempre ouvirá falar. A atendente sugeriu diversos sabores para recheio, mas ele recusou todos, e nem manteiga quis. Afinal, queria provar no sabor mais natural possível, do mesmo jeito que tinha visto num filme os índios comerem. Foi uma só mordida e a rejeição foi imediata. Reclamou da total falta de sabor. A tapioca, ao natural, só tem mesmo o gosto da farinha de goma. Meu amigo nunca mais quis experimentar. Em outra ocasião, tomando uma cerveja numa praia do Nordeste, convenci um companheiro a saborear ostra crua como tira-gosto. Ele experimentou e quase me bateu. Enquanto ele me xingava e cuspia o alimento, fiquei sabendo que ele tinha mastigado a ostra, coisa que eu tinha esquecido de explicar a ele para não fazer.
Eu, mesmo me arriscando a, de vez em quando, experimentar alguma coisa muito ruim, prefiro continuar conhecendo e saboreando os diferentes, às vezes até estranhos, pratos que encontro nos vários lugares por onde ando. Desde que não seja preparado com fígado, claro!
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