De Belém
Quase toda a imprensa brasileira se limitou a repetir press-releases oficiais sobre a assinatura dos acordos firmados pelo Brasil com a Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, ontem, com a presença do presidente Lula. Com o maior destaque dado ao gás, pouco se informou sobre um dos acordos foi sobre o aumento da geração de energia da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, que será “otimizada, com flexibilização de regras operativas”.
Para essa ampliação, será permitido a continuidade da operação na quota 90 “constante ou ampliada durante o período de estiagem com ganhos energéticos” ao Sistema Interligado Nacional, informou o Ministério de Minas e Energia.
A usina é a quarta maior geradora de energia do Brasil em capacidade instalada, atendendo 3,7% da demanda nacional. Ela é a maior hidrelétrica do mundo em quantidade de turbinas bulbo instaladas. São 50 unidades geradoras. Cada uma tem potência de 75 megawatts, dando a Jirau 3.750 MW de capacidade instalada.
Como são turbinas horizontais, elas não precisam de grandes reservatórios de acumulação de água para movimentar suas turbinas. São as chamadas usinas a fio d’água. O reservatório de Jirau, no rio Madeira, é de 361 quilômetros quadrados. O lago de Tucuruí, no Tocantins, com capacidade plena de 8,2 mil MW (três vezes mais do que Tucuruí), é de 3.100, formando um reservatório nove vezes maior.
A energia firme de Jirau é mais alta do que as outras grandes hidrelétricas da Amazônia porque o Madeira, o maior afluente do rio Amazonas, tem vazão constante, com períodos de menor volume de água, mas sem longas estiagens, como Belo Monte, no rio Xingu.
Para conseguir a sua geração atual, Jirau opera entre as cotas de 82,5 a 90 metros. Segundo o que foi anunciado na Bolívia, a operação passará a ser a máxima, agora em ritmo constante. Serão mais 10 turbinas, adicionando 750 MW e elevando a produção para 4,5 mil MW.
Como isso será possível, ninguém explicou, mesmo porque parece que ninguém perguntou. Jirau completará em setembro 11 anos de funcionamento. Mudou bastante desde então. Mas poucos acompanham essa mudança, realizada por um quadro societário pequeno, mas poderoso.
A multinacional Engie tem 40% das ações. A japonesa Mitsui, a privatizada Eletrobrás e a estatal Chesf dividem parcelas de 20% cada uma. Do poder que elas concentram, o péssimo noticiário da imprensa não dá uma tradução adequada.
É assim que se continua a tratar a Amazônia.