O QUESTIONÁRIO
“Por favor! O Senhor poderia responder um questionário para meu trabalho acadêmico?”
“Claro”
“Qual a sua idade?”
“68”
“Olhe, as perguntas são pessoais. Se importa em respondê-las?”
“Claro que não!”
“Pois bem. Como o Senhor se sente fisicamente já tendo alcançado a melhor idade?”
“Hã?”
“O Senhor não entendeu a pergunta?”
“Acho que sim. Menos a parte de melhor idade.”
“Ora! O senhor não disse que tem 68 anos?”
“Disse. E tenho!”
“Então? O Senhor está na melhor idade, não?”
“Sinto muito, jovem. Mas acho que não tenho condição de responder o seu questionário.”
Tentei explicar, mas não consegui. Afinal, segundo quem me entrevistava, todo mundo na “facul” diz que idosos vivem na melhor idade. Como, então, posso convencer alguém que dizer que idoso está na “melhor idade” é tão sem sentido como achar normal a criança chamar professora de “tia”? Cada coisa tem seu lugar.
Podem, alguns “filósofos” da contemporaneidade, alegar que o fato do elemento passar dos sessenta anos com lucidez, saúde e em condições financeiras de aproveitar bem a velhice, tenha, a partir daí, uma vida melhor. Seria isso o ideal de vida para todos que chegassem a tal faixa etária, mas, infelizmente, pelo menos no Brasil, o que temos são idosos precisando trabalhar cada vez mais para manter um padrão de vida minimamente aceitável e poder alimentar a si e, não raro, também os filhos e netos, podendo, ainda assim, comprar os caros remédios, ficando sem a mínima condição de “curtir” a boa vida na qual a velhice deveria se transformar.
São tempos de dificuldades, sentindo o corpo cobrar o passado. As dores vêm e somem para depois aparecerem em outros lugares, quase sempre mais fortes. Além disso, o desrespeito para com os idosos grassa enquanto a disposição física se limita.
Leio matérias que justificam tal eufemismo, entre as quais a que diz que chamar o idoso de idoso, ou de velho, pode entristecê-lo ou desanimá-lo de uma forma indescritível. Na minha opinião, o melhor de qualquer idade é saber viver a própria idade. E infeliz daquele que cria a ilusão de viver, mesmo superficialmente, uma idade diferente da sua.
Assim, mesmo com todos os problemas, é bom ser idoso. E, melhor ainda, tendo consciência disso! Se por um lado sobrevivemos ao desespero de trabalhar demais para manter a família, como aos 30 ou 40 anos, por outro lado precisamos sobreviver aos problemas e doenças referentes à idade. Tudo tem seu tempo.
Para não ir muito longe e nem cansar o leitor digo apenas isto: quando ouço alguém, da imprensa ou um representante de alguma entidade, se referir aos elementos de terceira idade como “os da melhor idade”, minha vontade é de perguntar: “Caraca, foi tão ruim assim tua infância?”.
deveria se transformar.
São tempos de dificuldades com o corpo cobrando o passado. As dores vêm e somem para depois aparecerem em outros lugares, quase sempre mais fortes. Além disso, o desrespeito para com os idosos grassa e a disposição física se limita.
Leio matérias que justificam tal eufemismo, entre as quais uma justificativa comum é de que chamar o idoso de idoso, ou de velho, pode entristecê-lo ou desanimá-lo de uma forma indescritível. Olha, o melhor de qualquer idade é saber viver a própria idade. E infeliz daquele que cria a ilusão de viver, mesmo superficialmente, uma idade diferente da sua.
Assim, mesmo com todos os problemas, é bom ser idoso. E ter consciência disso! Se por um lado sobrevivemos ao desespero de trabalhar demais para manter a família, como aos 30 ou 40 anos, por outro lado precisamos sobreviver aos problemas e doenças referentes à idade. Tudo tem seu tempo.
Para não ir muito longe e nem cansar o leitor digo apenas isto: quando ouço alguém, a imprensa ou representante de alguma entidade, se referir aos elementos de terceira idade como “os da melhor idade”, minha vontade é de perguntar: “Caraca, foi tão ruim assim tua infância?”.