Quem diria, hein! Em plena Amazônia eu procuro e não encontro ar puro. Como é possível tamanho contraste, nesta, que é considerada o pulmão do mundo e a maior floresta nativa do planeta? Pois é, tudo tem explicação. É preciso produzir riquezas, alguém precisa ganhar. É necessário reformar os pastos, produzir soja, madeira, equilibrar a balança comercial, etc,.. etc,.. etc,..! Convence? Não sei, mas todo ano é assim, quando chega agosto o ar fica carregado de impurezas e a nossa vida insuportável. Para todos os lados só se vê uma névoa de fumaça provocando inúmeras conseqüências à saúde humana e ao meio ambiente.
Tudo por causa da atitude irracional do homem…espera aí…irracional… não! Pelo que se saiba todo organismo tem um papel social dentro de sua comunidade, aquilo que os biólogos chamam, cientificamente, de “nicho biótico”, ou seja, cada um dos seres, animais ou vegetais, têm uma função que contribui para a preservação de seu meio, seu habitat. Nesse caso, se os animais são irracionais, as causas da depredação ambiental são as atitudes “racionais” do homem, afinal, animais não derrubam e queimam árvores.
De acordo com estudo baseado em dados da Agência Espacial Brasileira, que reúne imagens monitoradas por satélites e divulgado numa revista científica norte americana, entre 1995 e 2000, 1,9 milhão de hectares foi devastado, equivalendo a sete campos de futebol por minuto de mata virgem destruída. Outros dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Instituto Ambiental da Amazônia (Ipam), calculam em, no mínimo, U$$102 milhões o custo médio anual dos danos provocados pelo fogo na região Amazônica, incluindo a liberação de milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). Só em Roraima, no ano de 1998, ocasião em que foi registrado o maior incêndio florestal da história do País, o Estado sozinho emitiu entre 36 e 472 milhões de toneladas de CO2.
Você sabe quanto vale uma vaca? Acredito que sim. E quatro vacas, você sabe? Todo mundo sabe. E quem não sabe, se quiser, descobre rapidinho. É só perguntar no açougue mais próximo. É fácil levantar.
Agora, responda-me, você sabe qual o espaço de pasto necessário para se criar uma vaca, ou melhor, quatro vacas? Provavelmente não saiba, mas se tiver interesse em saber, creio não ter dificuldade para levantar tal informação. É só perguntar a qualquer pecuarista que ele terá a resposta na ponta da língua, ou seja: 24 mil metros quadrados, ou, o equivalente a 2, 4 hectares, ou se preferir, 1 alqueire.
Agora, responda-me, se puder, você sabe quantas vidas são extintas em idêntico espaço de floresta nativa para formar o pasto? Acredito que até o mais renomado doutor em ciências biológicas teria dificuldade para precisar, com exatidão, os bilhões de microorganismos, insetos, animais rasteiros, aves, outras espécies animais e vegetais extintos com o fogo de um suposto progresso que atende a interesses de uma elite minoritária.
Imagine você amarrado ao topo de uma árvore, completamente despido e por baixo, inúmeros ramos secos entrelaçados como uma fogueira, pronta para assá-lo vivo a uma menor fagulha. Imagine sua angústia ao perceber as raízes já em chamas, atingindo pouco a pouco o tronco, as labaredas alimentadas pela casca ressecada da árvore, a cada instante tornando-se mais vivas e ganhando novas formas, formas aterrorizantes, semelhantes a dragões cuspindo fogo. Você olha para os lados e não vê a mínima chance de salvação. E o pior, vai sofrer muito antes de ser tostado, porque tem certeza de que o fim é inevitável e será cruel. E eu acredito! Você vai rever na mente toda sua vida em segundos, como uma fita de vídeo sendo rebubinada, desde de sua remota infância até o fatídico momento, e não vai encontrar um motivo, se quer, que o torne merecedor de tamanho suplício.
É desta forma que morre o passarinho recém nascido e ainda depenado, sem poder voar, andar, totalmente impotente, sem a menor chance de defesa. É claro que não posso saber o que sente um pássaro em tal situação, mas sendo fácil imaginar um ser humano em posição idêntica, creio ser possível deduzir. O pássaro não tem memória para avaliar se merece ou não esse fim, mas o egoísmo materialista do homem não se importa e o condena a pena capital. Pense! Reflita! Porque se não, o animal extinto de amanhã, pode ser você.
Messias Pereira é jornalista
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