Vale do Guaporé – Às margens do Rio Guaporé, no município de São Francisco, em Rondônia, está localizada a Comunidade de Santo Antônio, formada por descendentes de quilombolas de um antigo Quilombo. 16 casas de palha abrigam 104 pessoas de uma mesma família. “Aqui quem não é neto, é sobrinho, primo ou cunhado de alguém”, disse o jovem Roberto Lopes Barros, líder da comunidade.
Casas deixadas por seus moradores com portas e janelas abertas dão sinais da tranqüilidade existente no local. “Vivemos em harmonia. Aqui não sabemos o que é criminalidade”, disse Roberto. A maior dificuldade enfrentada, segundo os moradores, sempre foi o fato da comunidade estar localizada em área de reserva biológica, o que impedia o trabalho no plantio e na comercialização de produtos agrícolas. Com o recente reconhecimento como Comunidade Quilombolas, a expectativa é a de que a vida em Santo Antônio possa melhorar. Entre outras dificuldades, está o atendimento na área de saúde, que é prestado somente em Costa Marques. O acesso até a cidade é somente pelo rio. “Gastamos 2h30min de barco voadeira para chegar a Costa Marques”, informou Roberto.
Quanto à preservação da área, Roberto disse que não será prejudicada. Segundo ele, a intenção é a de transformá-la em reserva extrativista, de forma que a comunidade possa viver não só da pesca e da mandioca, mas também do cultivo de produtos como arroz e feijão e da exploração do potencial turístico do local. “Queremos segurança para poder viver aqui, sem estarmos preocupados com a possibilidade de receber, de repente, uma ordem de despejo”, disse.
Os que chegam de fora
Os únicos moradores que não nasceram em Santo Antônio, são os que se deslocaram para o local após casar-se com um dos descendentes de quilombolas. A professora da escola da comunidade, Rosália Coelho Aranha, é uma destas pessoas. Ela dá aula para 15 alunos de 1ª a 4ª série, que estudam numa mesma sala e num único expediente.
Os irmãos Romão e Epifânio Lopes Calasans, de 64 e de 68 anos, são os descendentes de quilombolas mais antigos de Santo Antônio. Eles acreditam que o número de moradores, que diminuiu com o passar dos anos, volte a crescer, já que a comunidade deixou de ser reserva biológica. “Estudei nesta escola. Na época éramos em 86 alunos”, disse Romão. Satisfeito com a vida que leva, ele não pensa em deixar o local. “Meus pais nasceram aqui. Eu nasci aqui e esta sempre será a minha terra”, afirmou.