Porto Velho/RO – Hoje é comemorado o Dia Nacional da Árvore. A Floresta Amazônica é repleta de árvores importantes que já deram ao mundo importantes respostas no campo da medicina e da cosmética. Mas, dentre tantas, uma delas é especial para Rondônia: a seringueira. A espécie ajudou a compor a história da região Norte. Foi responsável por três ciclos econômicos, a instalação de várias comunidades e migração de pessoas do mundo todo para a região.
Atualmente, milhares de seringueiras são preservadas em reservas estaduais e federais da região Norte. No Estado são 1,4 milhões de hectares sob os cuidados de fiscais de órgãos ambientalistas, mas a vigilância parece não ser o suficiente. Para se ter uma idéia, 60% da reserva extrativista de seringueiras do distrito de Jacy-Paraná já foi destruída pela ação do homem. São invasores, principalmente toreiros e madeireiros que saqueiam as espécies, preocupando-se com o interesse próprio, sem demonstrar interesse pela devastação que podem causar.
No Estado existem 21 reservas estaduais e outras cinco federais, segundo Osvaldo Castro de Oliveira, presidente da Organização dos Seringueiros de Rondônia. A Organização surgiu há 14 anos com a proposta de criar 3 mil hectares de área de seringueiras preservadas. “Ainda há muitas espécies que estão vulneráveis à ação do homem”, lamenta Osvaldo. Segundo ele, há possibilidade de ser criada uma nova reserva federal, no município de Machadinho do Oeste. “Para se ter idéia, uma única reserva extrativista de seringueiras do Acre, a Chico Mendes, possui 1,2 milhões de hectares, quase o total de toda a área preservada de Rondônia”, compara.
Abundância
Segundo o pesquisador de história regional e poeta, Antônio Cândido, a seringueira é a grande responsável por um longo período de abundância e mesmo assim, protagonista de uma história cheia de sofrimentos. “Famílias inteiras se deslocaram para a região Norte, alguns foram felizes com a mudança e outros nunca puderam voltar para suas terras, mesmo assim, estão ligados diretamente à história de desenvolvimento e cultural de nosso povo”, diz.
Coronéis
Com o início da demanda do mundo industrializado pela borracha, os empresários “seringalistas”, ou “coronéis de barranco” estabeleceram na Amazônia um sistema de semi-escravidão capitalista: praticamente obrigaram grande parte da população indígena a trabalhar para eles, transformando-os em “caboclos seringueiros”. Os trabalhadores nordestinos, que vieram à Amazônia em busca de emprego, caíram logo na dependência econômica dos seringalistas e se tornaram os “seringueiros nordestinos”.
Concorrência
Os ingleses logo descobriram o potencial econômico da borracha, produzida com o látex extraído da seringueira e no ano 1876, um Inglês chamado Henry Wickham levou sementes de seringa da Amazônia para a Inglaterra. Foram formados os seringais de cultivo na Malásia, e a produção estrangeira superou a Brasileira, levando à derrocada a economia amazônica. Em Rondônia esta crise foi responsável pela falência da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, inaugurada em 1913, ano em que a borracha brasileira começou a sentir as conseqüências da borracha da Malásia, que passou a abastecer as tropas do Eixo, Japão e Cia.
Soldados
A borracha brasileira traria, porém, ainda, outro fluxo de migração, com a chegada dos “soldados da borracha”. Este segundo surto da borracha no Brasil aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial, quando aumentou a demanda pela borracha e os brasileiros sujeitos ao serviço militar tinham que escolher entre lutar na guerra ou trabalhar como seringueiro na Amazônia. Muitos dos soldados da borracha nunca conseguiram voltar para suas terras, alguns nunca foram pagos pelos seringalistas.
Com o fechamento dos seringais, em virtude da concorrência internacional, os seringueiros ficaram entregues á própria sorte. Até hoje essa herança, a maioria de nordestinos, ajuda a compor a história de vida e de formação dos novos amazônidas da região Norte.
Guardiões
A partir de 1970 chegaram os fazendeiros na Amazônia, expulsando os seringueiros, derrubando a floresta e assim iniciando os conflitos de terra. Sob esta ameaça, os seringueiros começaram a se unir em cooperativas e sindicatos.
Êxodo rural
Em virtude das dificuldades econômicas, a falta de condições básicas de saúde e educação, mais e mais seringueiros abandonam a floresta num grande êxodo rural e vão para as periferias das cidades. Para incentivar a permanência dos seringueiros na floresta, instituições como a Organização dos Seringueiros de Rondônia criam sistemas para o beneficiamento do látex de forma mais rentável e incrementam a renda da população através do manejo florestal.