Porto Velho/RO – A intervenção pela União, ocorrida no garimpo ilegal de ouro que já está sendo chamado de “Novo Eldorado da Amazônia”, não impede o deslocamento diário de milhares de trabalhadores de Rondônia, que saem em busca do ouro. O garimpo está localizado ao norte do município de Apuí, no Estado do Amazonas e nas proximidades de Jacarecanga, no Pará, a 70 quilômetros de Apuí.
Somente no último final de semana, sete ônibus partiram lotados de Porto Velho em direção à mina. Com a descoberta do novo foco de ouro, a história volta a se repetir na região norte e o sonho pela riqueza fácil mais uma vez atrai homens de várias localidades, que sem se importar com as dificuldades deixam para trás a família, para certificarem-se de que a “fofoca” desta vez pode fazer mudar suas vidas.
Em menos de dois meses, o número de garimpeiros que trabalham no local – cinco grotas abertas com cerca de 30 hectares – aumentou de 50 para cerca de 5 mil homens.
Os ônibus continuam partindo de Porto Velho em direção ao garimpo, todas as segundas, quartas, sextas e sábados. De acordo com os motoristas, sempre lotados. As viagens são organizadas por uma agência de viagens e iniciam nas proximidades da rodoviária.
O garimpeiro Elizeu Monteiro é mais uma das pessoas que viajou no sonho da riqueza rápida. Ele embarcou no ônibus que saiu dia 16, de Porto Velho às 23h. As despesas com a viagem ficaram em torno de R$ 200, fora o gasto com alimentação. As compras precisam ser levadas de casa, assim como uma barraca ou rede. “Só o que temos certeza quando saímos é que vamos nos abrigar dentro da mata, debaixo de uma lona”, diz.
Fofoca
Mesmo com as dificuldades, esses trabalhadores demonstram muita persistência. Elizeu já trabalha no ramo há 20 anos e nem pensa duas vezes em partir em direção a uma fofoca de ouro – termo utilizado para confirmar a existência de minério em uma determinada área. Ele mora no distrito de Triunfo (Candeias do Jamari) e viajou junto com outros três companheiros. Um deles, Manoel Theodoro de Souza, já garimpou no rio Madeira, na Venezuela e no Suriname. “Onde tem uma fofoca lá eu estou”, diz. “Puxei 900 gramas de uma vez na Serra Sem Calça (próximo ao município de Jaru) determinada vez”, orgulha-se.
O motorista do ônibus que leva os trabalhadores ao garimpo, Cláudio da Silva Araújo, reveza o trabalho com outros colegas. Segundo ele, a viagem é longa e cansativa. O ônibus sai às 23h de Porto Velho e chega ao garimpo às 17h do dia seguinte. “Nada impede a ida deles ao local. Todos têm o mesmo sonho”, comenta. Segundo ele, a grama do ouro nas localidades próximas ao garimpo custa R$ 40,00.
Promessa de ouro
O garimpo é uma atividade em que os praticantes precisam de um aliado muito forte para trabalhar, a sorte. É por causa dela e da promessa de conseguir até 30 quilos de ouro em uma única rocha, que os garimpeiros estão se mobilizando atrás da fortuna. Até o presidente da cooperativa de garimpeiros (Minacoop), Washington Charles Cordeiro Campos, parte para o garimpo de Apuí essa semana.
“Vou lá junto com o vice-presidente para organizar a atividade dos garimpeiros”, afirma. Agora é a hora de os governos aprovarem a exploração em benefício de milhares de trabalhadores que estão atuando no local. Querendo ou não, são empregos que estão sendo gerados e todos os que possuem familiares aqui virão gastar na Capital. Além disso, a maioria dos garimpeiros é de Rondônia”, defende.
De acordo com Washington, a procura pelo garimpo está motivando trabalhadores que atuavam no rio Madeira e de outros pontos de extração do Estado. “Para se ter uma idéia, praticamente já não encontramos batéia (bacia que serve para lavar sedimentos de minerais preciosos), para comprar em Porto Velho”, disse.
União dificulta ingresso
Nem tudo pode ser sonho. Os trabalhadores que chegarem ao garimpo esta semana correm o risco de não poder explorar o minério, em virtude de um bloqueio de novas autorizações de estudos de viabilidade e de direito de exploração da reserva, emitido pela União, e que pode impedir a entrada de novos trabalhadores no garimpo.
Dois requerimentos de direito de exploração, que estavam em andamento no Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM), tiveram a tramitação suspensa com a intervenção. Um deles é do lavrador José Ferreira da Silva Filho, que se diz dono das terras onde foi descoberto o minério e que cobra até 10% de comissão da exploração aos garimpeiros.
Segundo a engenheira Maria José Salum, diretora de Desenvolvimento Sustentável na Mineração do Ministério de Minas e Energia, a intenção do governo é regulamentar a reserva e firmar parceria com os próprios garimpeiros.