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sábado, dezembro 21, 2024

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Soja tem semana marcada por queda vertiginosa dos prêmios no Brasil e aversão ao risco em Chicago

A semana foi bastante difícil para o mercado da soja na Bolsa de Chicago, em um movimento que acompanhou as demais commodities, devido a pressão e as inúmeras incertezas que vieram do mercado financeiro desde o último final de semana. A aversão ao risco se manteve muito presente entre os negócios nos mercados internacionais, reforçando o peso da crise de confiança que se instalou na sequência dos últimos acontecimentos no sistema bancário norte-americano e que foi contaminando os mais diversos setores na sequência.

Com tudo isso, os futuros da soja na CBOT terminaram a semana com baixas acumuladas de mais de 2% entre os contratos mais negociados. O vencimento maio, referência importante para a atual da safra do Brasil, registrou perda de 2,06%, passando de US$ 15,07 – na última sexta (10) – para US$ 14,76 por bushel. Já o julho foi de US$ 14,94 a US$ 14,60, no mesmo período, acumulando uma queda de 2,3%.

Somente no pregão desta sexta-feira (17), os preços da soja terminaram o dia perdendo entre 13,25 e 15,50 pontos, com os contratos mais longos já operando abaixo dos US$ 14,00 por bushel. Mais cedo, as cotações testaram suas mínimas desde janeiro, segundo analistas e consultores de mercado. Os futuros do farelo e do óleo também caíram, com o óleo perdendo quase 2% somente nesta sessão.

Ao lado da movimentação técnica, o mercado da soja tem pressão que vem também do lado dos fundamentos. Os traders acompanham a chegada – ainda que atrasada – de uma grande safra do Brasil, enquanto a demanda, principalmente da China, segue contida.

“Hoje o viés é de baixa, tanto técnico, como fundamental. Fundamental porque tem muita oferta e pouca pressão de compra. O comprador já está muito comprado e até agora não conseguiu levar, os embarques estão atrasados. No técnico, mercado investidor em Chicago está apostando na baixa em função do financeiro, dos bancos, da crise. E com tudo isso, viés de leve baixa”, afirma o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.

As informações sobre a Argentina – incluindo o novo corte desta semana apontando a safra de soja em 25 milhões de toneladas – também permanecem radar nos traders, porém, já sem força o suficiente para promover novas rodadas de alta, mas dando apenas um suporte às cotações. De lá, chegam ainda as preocupações com as ofertas de farelo e óleo de soja, que vão sofrer com um rombo diante da quebra de cerca de 50% da safra 2022/23.

A tendência é de que o Brasil seja o substituto natural nos derivados, além de alternativa primeira para exportar soja in natura para os argentinos para que, pelo menos, o básico de sua capacidade processadora seja alcançada, na tentativa de mitigar os  prejuízos.

“O que tinha para fazer o mercado subir já foi precificado. Agora, somente um fato novo, altista, poderia fazer o mercado virar essa direção no curto, médio e até longo prazo”, explica o diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, em entrevista ao Notícias Agrícolas.

A detecção de novos casos de peste suína africana na China também intensificaram o viés negativo para as cotações da soja em Chicago nestes últimos dias. E embora hoje a nação asiática esteja muito melhor preparada para passar por um momento como este depois da epidemia que registrou nos últimos anos. Ainda assim, a informação acaba trazendo um peso importante para os mercados.

“Uma corretora na China falou em um grande aumento de casos positivos de PSA no norte da China, e falaram também em defaults de farelo no mercado interno. Mesmo assim, a oferta de carne suína continua crescendo. A segunda maior produtora na China informou seus números de fevereiro. Houve aumento no peso médio dos animais, aumento do número de animais abatidos, mas o preço foi bem abaixo dis últimos três meses e abaixo do seu custo. A estratégia das Top3 é consolidar o setor pela dor, o que não é bom quando se pensa em consumo de farelo de soja. As vendas nesta semana continuaram muito fracas”, explicou o analista do complexo soja, Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities.

 

 

MERCADO BRASILEIRO FOCADO NOS PRÊMIOS EM QUEDA

Essa combinação toda de fatores que pesam agora sobre os preços futuros da soja em Chicago se choca com prêmios caindo muito agressivamente no mercado brasileiro e sendo o destaque negativo para o produtor brasileiro por mais uma semana. “A semana chega ao fim e os prêmios da soja renovam suas mínimas”, relata Vanin.

Nos últimos dias, ainda como explica o analista da Agrinvest, negócios foram registrados com prêmios de até 50 cents de dólar negativos, ou seja, 50 centavos de dólar abaixo dos valores do bushel praticados na Bolsa de Chicago para o contrato maio.

“O que mais atenção é que a queda não vem sendo acompanhada de um grande movimento de venda dos produtores e cooperativas. A queda se dá por uma combinação de fatores: atraso nos portos, alto de tempo de espera – em Paranaguá chegando a 30 dias -, cobertura das fábricas avançando para o maio/junho, janela de comrpas da China indo para o maio e junho, falta de espaço no interior, além da safra recorde”, diz.

Com isso, os negócios permanecem lentos no mercado nacional. Ainda de acordo com a consultoria, o farmer selling, em quatro dias, foi de 2,35 milhões de toneladas, “o que ainda não é um grande número. Muitos produtores e cooperativas continuam arrumando maneiras de estocar a soja ou escoar ainda dentro desse mês. No entanto, a maioria dos continua bem ausente quando se trata de vendas para maio, junho e julho”.

Em Mato Grosso, ainda segundo Vanin, os sojicultores têm buscado garantir operações com pagamentos bem longos para capturar o financeiro e o câmbio, por exemplo. Mas, a diversidade de perfis de comercialização entre os produtores brasileiros tem sido uma marca bastante forte desta safra.

Segundo Carlos Cogo, porém, toda atenção agora deve ser redobrada já que a rentabilidade final da safra 2022/23 pode ser menor em função deste atraso na comercialização e da possível redução dos preços. Por hora, as margens ainda são atrativas e precisam ser aproveitadas com cautela e estratégia.

“Sem receio nenhum, para quem já vendeu alguma coisa, vai planejando sua comercialização de forma pausada, intercalada. Mas, ´para quem não fez nada (de vendas) ainda é bem interessante nos preços atuais e fixar uma parte de sua safra futura nos preços atuais. As margens ainda são muito atrativas e não se pode ficar totalmente descoberto em um mercado que está em curva de declínio”, orienta o especialista. (Por: Carla Mendes/Notícias Agrícolas)

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