Manaus – O mundo está cada vez mais quente. Enquanto o aumento da temperatura global girou em torno de 0,7ºC desde 1900, as previsões são de que chegue a 3,5ºC até 2.100, o que significa cinco vezes mais que a mudança ocorrida até agora.
De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Philip Fearnside, PhD em ecologia, os impactos do aquecimento da temperatura variam desde derreamento de calotas polares até mudanças na distribuição de diversas espécies. “Várias mudanças preocupantes, como liberação de carbono dos solos e o aquecimento da água dos mares, têm as suas explicações mais lógicas no aquecimento global”, disse.
Estas mudanças, segundo o pesquisador, provavelmente estão ligadas a outros fenômenos climáticos, como o aumento da freqüência do El Niño, que leva a mais secas e incêndios florestais na Amazônia. O mesmo se aplicaria ao aquecimento da água no Atlântico, que estaria ligado a seca e vazante forte de 2005.
Combustíveis fósseis
Quanto as causas do aquecimento, o pesquisador explicou que a temperatura aumenta em virtude da liberação de gases como gás carbônico (CO2), metano (CH4) e oxido nitroso (N2O). Os gases impedem a passagem de calor da superfície da terra para o espaço, esquentando o planeta, já que a energia entra na luz solar, na forma de ultravioleta, e não consegue sair com a mesma facilidade quando transformada em calor.
Os gases de efeito estufa são produzidos pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural e pelas mudanças do uso da terra, inclusive ações relacionadas ao desmatamento e a construção de hidrelétricas.
Mais água e menos chuva
O aumento da temperatura faz com que as árvores na Amazônia precisem de mais água para fazer fotossíntese e sobreviver. Isso ocorre ao mesmo tempo em que a quantidade de chuva diminui.
O processo faz com que mais árvores morram na floresta em pé e pode levar à transformação da mata em um tipo de savana, semelhante ao cerrado. “O aumento da vulnerabilidade à entrada de incêndios e o aumento da quantidade de madeira morta, implica em um impacto ainda maior sobre a floresta”, disse o pesquisador.
Simulações feitas pelo Centro Hadley, do Escritório Meteorológico do Reino Unido-UKMO, um dos principais modelos climáticos do mundo, indicam uma mortalidade catastrófica da floresta amazônica até 2080, mesmo sem o efeito agravante de incêndios. Isso, se não houver redução das emissões globais de gases de efeito estufa.
Situação fora de controle
De acordo com Philip Fearnside, a primeira coisa que deve ser feita para diminuir o aumento da temperatura é reduzir brutalmente a emissão de gases pela sociedade humana, tanto pela queima de combustíveis como pelo desmatamento.
Há também no meio científico, segundo o pesquisador, a preocupação de que o efeito estufa possa fugir ao controle humano e que apenas eliminando as emissões humanas, mesmo por completo, não haveria como frear as emissões do solo e das florestas. “A mortalidade de árvores e a entrada de incêndios na floresta durante a atual seca na Amazônia, é uma lembrança valiosa da fragilidade destes sistemas e do fato que muitos impactos da mudança climática escapam da vontade humana”, afirmou.
Valorização da floresta em pé
De acordo com o pesquisador, além de tomar medidas de repressão contra o desmatamento na Amazônia, o Governo precisa enfrentar as causas que levam ao desmatamento, inclusive as políticas sobre grandes obras de infra-estrutura que abrem acesso a novas áreas de floresta, como é o caso da rodovia BR-163.
Em um nível considerado básico, segundo o pesquisador, o Governo precisa também transformar a economia da região amazônica para ser baseada no valor dos serviços ambientais da floresta em pé, “ao invés de ser baseado na destruição da mata para madeira, carne de boi, soja e outras mercadorias materiais”.
Entre os serviços ambientais, o pesquisador citou a estocagem de carbono -para evitar o efeito estufa- que é mais próximo da compensação com fluxos financeiros significativos nas próximas décadas, já que o Governo tem se posicionado até agora contra crédito de carbono pela manutenção da floresta. “É preciso mudar esta posição para se valer de algo que tem um valor suficientemente alto para contrapor as forças do desmatamento na região”, disse.