VELHO, E DE CHAPÉU
Por Luiz Albuquerque
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Na juventude aprendi a dirigir automóvel com um vizinho que era motorista de taxi. Pelo que lembro, naquela época, ao menos onde eu morava, não havia autoescola para fazer a preparação ao exame de habilitação. Aliás, nem lembro se tais cursos já existiam. Assim, aprendi a dirigir pela ótica de alguém que estava mais preocupado em ganhar dinheiro como taxista do que com o trânsito. Depois me aperfeiçoei, “na marra”, com os erros de cada dia. Ainda bem que o trânsito, por aqueles anos, era bem mais tranquilo do que a loucura de hoje.
Dos ensinamentos do meu amigo-taxista-instrutor, com o tempo aprendi que umas eram corretas e outras não, sendo algumas até engraçadas ou mesmo ridículas. Afinal, seu conceito de como ser bom motorista foi criado pelas próprias experiências ao dirigir. Dos suas orientações havia uma da qual dou risada até hoje. Aliás, era bem mais um conselho. Ele dizia: “Tenha muito cuidado com os motoristas velhos, principalmente os de chapéu!”.
Segundo ele, um motorista velho era sempre um entrave e um imprevisto no trânsito, sendo pior até mesmo do que apregoava uma propaganda que, na época, resumia um grande problema de trânsito com a seguinte frase: “Cuidado! Atrás de uma bola sempre vem uma criança”. Bons tempos aqueles quando nas ruas e praças havia bola com criança correndo atrás. Hoje não mais caberia, já que, com os celulares e seus joguinhos, as crianças não brincam mais de bola na rua. E com as ruas e outros espaços públicos perigosos até para os adultos, elas quase nem mesmo andam pelas ruas.
Mas voltemos ao velho de chapéu. Meu amigo falava da lerdeza dos velhos ao dirigir. E, segundo ele, pior ainda, se estivesse usando chapéu, pois isso significava que era da roça, do interior, e que não estava acostumado ao trânsito da cidade.
Não sei se meu amigo-taxista-instrutor estava certo ou não, mas, normalmente, em minhas décadas dirigindo, sempre aparecia um velho, de chapéu, “atravancando” o trânsito. Agora, já na terceira idade, quando posso costumo dirigir pela faixa da direita, sem pressa e sem me incomodar com os motoristas que insistem em correr acima do permitido e que usam a buzina como se isto fosse me fazer acelerar e correr mais. Fico, então, imaginando o xingamento deles tentando fazer eu andar mais rápido. Só que esquecem que a buzina não serve de acelerador do meu carro.
Eles não sabem que só não uso chapéu para não ser ainda mais xingado com berros, como fazia o meu antigo instrutor, que gritava: “Sai do meio! Só pode mesmo ser um velho. E de chapéu!”.